domingo, 21 de outubro de 2012

­­Manifesto NADAfrágil

frágil
adj. 2 g. (lat fragile) 1. quebradiço 2. efêmero 3. fraco 4. sujeito a delinquir 5. sujeito a erros e culpas 6. que necessita de cuidados para se conservar

Fragilidade é a baixa capacidade de um material se estender quando submetido a uma força intensa. Ao contrário dos dúcteis como o nobre ouro, os materiais frágeis possuem baixa resistência à força aplicada e não podem absorver a energia contida na ação sem se romper, o que os impede de formar fortes fios e correntes. Essa propriedade foi atribuída às mulheres como parte de um jogo discursivo do patriarcado que afirma a entidade única Mulher como sujeito secundário, aquela que precisa do Outro, no caso, o Um - o Homem - pra se conservar. 
O que vemos é um instrumento de manutenção de uma desigualdade que, ao contrário de conservar, desmantela. A fragilidade delega às mulheres a baixa capacidade de resistência à violência aplicada pela lógica insana da opressão de gênero. O mito da eterna competição entre as mulheres delega a elas a baixa capacidade de, diante dessa força que já chega enraizada, construir uma corrente de fortes elos capaz de fornecer uma resposta bruta ao patriarcado. A mudança exige um choque com o estabelecido que não pode ser alcançado de forma alguma por um grupo frágil e o laço que é efêmero não promove cumplicidade suficiente para a ação coletiva de contramão.
Por isso negamos a fragilidade.
Negamos porque, mesmo diante do discurso de que “o sexo frágil é coisa do passado”, estamos sujeitas a forças que esperam de nós a fragilidade pra que não se ultrapasse os limites do status quo.
Negamos porque escolhemos resistir. Mais do que rechaçar a força violenta aplicada sobre nós, escolhemos nos estender. Para nos mantermos unidas, usamos nossa raiva e convertemos a energia da violência em resistência e construção.
Negamos porque escolhemos produzir atrito nas relações de gênero. A partir da desconstrução dos conceitos do patriarcado, criamos reação e contra-ataque.
Negamos porque se estender em coletivo é harmonizar as partes de uma corrente. Escolhemos formar fortes laços entre nós mulheres que rejeitem a distância imposta entre nós pelo patriarcado.
Negamos porque formar corrente é ampliar nossa vivência de amor e liberdade. Escolhemos converter as correntes que nos reprimem em sinceros elos. Transformando energia, nossa força se mantém na solidariedade, na cumplicidade e no companheirismo.
Negamos porque nossos corpos inscrevem nossa extensão revolucionária e não estamos dispostas a abdicar de nossa autonomia por uma lógica de controle e negativa vinda do poder.
Negaremos sempre a fragilidade oferecida pelo patriarcado. Agiremos em rede  ampliando nossa prática e negando nos romper diante da investida do inimigo.
Resistiremos sempre pela extensão da nossa vivência feminista e libertária!
Até que todas sejamos livres!